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Inteligência emocional: no topo das habilidades mais importantes

Recente levantamento do CRA-SP revela que os profissionais de Administração consideram essa competência imprescindível em suas rotinas de trabalho. Especialistas dão importantes dicas de como ela pode ser desenvolvida e explicam as vantagens de saber gerir as emoções

Saber lidar com as emoções no mercado de trabalho nunca foi tão necessário. Indecisões profissionais, transformações tecnológicas e relações humanas complexas, além de um cenário cada vez mais volátil e incerto, formam um ambiente propício para a ansiedade generalizada, que não combina com as inúmeras decisões e ações que precisam ser tomadas no dia a dia. 

Um dos motivos que justifica a importância da inteligência emocional no dia a dia dos profissionais, segundo Gilberto de Souza, bacharel em Administração e cofundador da Nortus, instituição de desenvolvimento humano global e organizacional, é o fato de as pessoas estarem adoecendo diante da alta complexidade do contexto mercadológico. “Elas estão perdendo a produtividade, a criatividade e o desejo de crescer em suas carreiras para evitar mais estresse. Além disso, têm ficado mais reservadas e interagem menos. Com o tempo, elas adoecem, passam a tomar remédios que as deixam letárgicas, se sentem exaustas, podendo chegar a um Burnout ou, até mesmo, a uma depressão”, comenta Souza.

As sérias consequências desencadeadas pelas atuais demandas, no entanto, são contrárias ao que as organizações precisam. Por isso, é necessário ajudar os profissionais a desenvolverem habilidades ligadas, principalmente, à inteligência emocional. “Além de poderem lidar melhor com o processo de complexificação, que tende a crescer, e se tornarem mais produtivos, saudáveis e contributivos com os demais, com a inteligência emocional eles se sentirão mais realizados e dispostos a continuarem se desenvolvendo”, afirma o cofundador da Nortus.

Mas, afinal, o que é inteligência emocional? 

De acordo com os professores norte-americanos Peter Salovey e John Mayer, que introduziram o tema à comunidade científica em 1990, a inteligência emocional é “a capacidade de perceber as emoções, assimilá-las com base nos sentimentos, avaliá-las e, assim, gerenciá-las melhor em si mesmo e nos outros”.

Ela é composta por cinco pilares que impactam diretamente nos âmbitos pessoal e profissional. O primeiro deles é o autoconhecimento, que, conforme explica Iraceles Pires, integrante do Grupo de Excelência em Coaching do CRA-SP, CEO da Top Talent Consultoria e especialista em saúde mental no trabalho, é a capacidade de se conhecer, reconhecer e gerenciar suas próprias emoções, como medo, tristeza, raiva, amor, surpresa, alegria. 

O segundo pilar é o autogerenciamento, que detecta situações de estresse e mantém o equilíbrio com a autogestão das emoções. “É a recuperação rápida de reveses, para agir nas interferências do ambiente”, explica a especialista.

Já o terceiro aspecto é a automotivação, ou seja, a capacidade de gerar a emoção frente aos contextos da vida. “Ao perceber a procrastinação em uma atividade é preciso modificar esse sentimento. Para isso, muda-se o foco do pensamento, a respiração e a postura física, bem como o significado que é dado para a execução da atividade”, complementa Souza.

A quarta habilidade é a empatia, o ato de perceber as emoções das outras pessoas. “É uma consequência natural de quem pratica as três habilidades anteriores. Quando sou capaz de perceber e gerenciar as minhas emoções, me torno mais sensível às emoções das outras pessoas”, explica Souza. 

Por fim, está a construção de relacionamentos sociais saudáveis e produtivos. “A arte de se relacionar bem está ligada à competência de lidar com as próprias emoções e com as dos outros”, comenta Iraceles.

Vantagens da gestão das emoções

Ao gerir as próprias emoções, explica Iraceles, o profissional fica menos suscetível ao estresse, à ansiedade e às distrações do pensamento automático, que tiram o foco do porquê estar ali, da missão e da visão relacionadas ao trabalho a ser executado. 

Tal habilidade também é essencial para o sucesso da liderança. Segundo Paloma Almeida, professora de MBAs e autora do curso de Inteligência Emocional e Resiliência da FGV, ao desenvolver as competências comportamentais no líder, os impactos na organização são enormes, pois naturalmente as equipes também se transformam.

“O líder obviamente não é o responsável pela saúde mental dos seus liderados. Mas ele tem o poder de favorecer a doença ou a saúde do time. Então, se a empresa não desenvolve líderes humanizados, qualquer programa de saúde e bem-estar que o RH implantar não será bem-sucedido. Afinal, não adianta o profissional assistir a uma boa palestra e depois ir para uma reunião com um líder que desrespeita, não dá espaço para opinião e lidera pelo medo”, explica Paloma.

A organização que enfatiza a inteligência emocional em sua cultura também consegue conduzir seus colaboradores a comportamentos de autocuidado, autoconhecimento, identificação de limites e autoconfiança, bem como ajustes em si mesmo em situações desafiadoras ou emergenciais. “Tudo isso impacta positivamente no clima e nos resultados da empresa”, completa Iraceles.

Como identificar os gatilhos

Para evitar comportamentos improdutivos e prejudiciais à carreira, a professora Paloma orienta identificar os gatilhos que alteram o seu estado emocional, isto é, aquelas questões mais sensíveis que podem fazer com que você tenha alguma reação desproporcional e inadequada.

O caminho para isso está relacionado ao primeiro pilar da inteligência emocional: o autoconhecimento. Segundo Iraceles, é preciso observar com atenção suas reações em situações negativas, como críticas, pressão por resultados e relacionamentos sociais. “Deve-se entender o quanto de estresse, frustração ou ansiedade essas situações te geram, bem como o quanto esses comportamentos prejudicam sua performance e resultados. Ao identificar esses pontos, você consegue gerenciar melhor suas emoções e reações, preservando sua saúde mental e promovendo um ambiente mais produtivo”, afirma a especialista.

Um bom exercício, sugere Paloma, é pensar em alguma situação recente que tirou você do sério e criar um plano de ação. Assim, quando esse contexto adverso e favorável para o gatilho surgir novamente, você saberá como agir.

Habilidades comportamentais no ambiente educacional

Segundo Paloma, que é docente convidada em algumas instituições de ensino superior, as competências comportamentais ainda são pouco discutidas nas salas de aula. “Os cursos superiores ainda não estão preparados. Vejo alguns professores que isoladamente se preocupam com o tema, mas não é algo institucional”, revela. 

Ela conta, inclusive, que há estudos que mostram o adoecimento de pós-graduandos, por conta da relação autoritária e, às vezes, até abusiva do aluno com o seu orientador, levando ao aumento da ansiedade e da depressão.

Um ponto que a preocupa, entretanto, são os vários cursos de inteligência emocional disponíveis na internet, pois muitos deles têm conteúdos equivocados. “Procurem saber quem é o professor do curso, quem criou o material e se a pessoa realmente é especialista nesse tema”, aconselha.

Dicas práticas

Embora não exista uma fórmula mágica, algumas atitudes podem ajudar no desenvolvimento da inteligência emocional. Confira algumas dicas dadas por especialistas: 

  • Busque informações de qualidade em bons livros e cursos;
  • Faça psicoterapia: ela é eficaz no processo de autoconhecimento;
  • Peça feedbacks para as pessoas: isso aumenta a visibilidade de pontos cegos no comportamento; 
  • Treine a observação, identificação e gerenciamento das emoções, começando pela autoestima, a autoeficácia e o bem-estar diário;
  • Exercite diariamente a fisiologia das emoções no trabalho, em casa e nas interações sociais. Compreenda como se manifestam no próprio organismo e no de outras pessoas;
  • Observe com atenção como as pessoas que possuem uma boa forma emocional se comportam no dia a dia;
  • Encontre um mentor experiente que possa te orientar sobre como se comportar frente às adversidades no ambiente de trabalho.

Aprimorando as habilidades

Além de identificar a inteligência emocional como principal competência do dia a dia para os profissionais de Administração, o levantamento do CRA-SP também destacou outros aspectos importantes com relação ao desenvolvimento de habilidades necessárias no mercado de trabalho. Confira alguns insights: 

Capacitação

  • 68,1% dos profissionais disseram ter feito algum curso ou treinamento, por iniciativa própria, nos últimos 24 meses; 
  • Destes, 65,6% arcaram com os custos desse desenvolvimento e 20,7% procuraram conteúdos totalmente gratuitos.

Desafios 

  • A falta de tempo (42%) e de recursos financeiros (39,2%) foram os principais obstáculos apontados para a realização de mais cursos; 
  • 31,1% dos respondentes disseram ter dificuldade em escolher opções de qualidade diante da vasta oferta disponível no mercado;
  • Mais de 80% dos profissionais acreditam que as competências comportamentais são as mais difíceis de desenvolver e apenas 45% dos entrevistados tiveram a oportunidade de aprimorar essas habilidades durante a graduação.

Responsabilidade

  • Quase 80% dos respondentes acreditam que cabe ao próprio profissional buscar esse conhecimento e apenas  5,2% consideram que o empregador deve assumir esse processo.

Confira a íntegra deste e de outros levantamentos no site do CRA-SP. Acesse https://www.crasp.gov.br/crasp/site/imprensa/levantamentos-com-registrados

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